História do Villa Coral



Era uma vez, um grupo de crianças que moravam no morro mais famoso da cidade de Jaraguá do Sul. Esse morro era chamado de Boa Vista, mas também têm vários outros nomes. Antigamente era conhecido como Morro África fazendo referência aos seus primeiros moradores, a família afrodescendente Rosa que ainda vive no local. Hoje o morro é atração turística e foi popularmente apelidado como Morro das Antenas. Esse morro é tão alto que pode ser avistado de qualquer lugar da cidade e depois da instalação das antenas o acesso ao seu topo ficou facilitado, então as pessoas sobem lá nos dias ensolarados para pular de parapente ou simplesmente admirar a vista que engloba além de toda a cidade, as cidades vizinhas como Guaramirim, Joinville, São Bento e o mar que rodeia São Francisco do Sul.
Infelizmente nem tudo na vida é feito de coisas boas, o lado ruim desse morro é que suas ruas são tão íngremes que elas sofrem muita corrosão durante as chuvas e para piorar a cidade de Jaraguá do Sul fica em um vale onde chove muito. Nestas condições, a vida, para quem mora lá no Morro Boa Vista não é lá muito fácil. Os carros e outros transportes como ônibus e caminhões sofrem muitos desgastes, pois além de íngremes, os caminhos que são de terra estão sempre esburacados e às vezes com muitas pedras expostas o que é muito perigoso.
Mas que vive ali não se deixa vencer por esses problemas não. A vista do nascer e pôr do sol, toda aquela natureza e a vista panorâmica da cidade compensam qualquer sacrifício e são muito inspiradoras. Tão, mas, tão inspiradoras que as crianças que ali vivem resolveram espontaneamente se reunir para cantar. Têm coisa melhor na vida do que receber todos os dias inspiração para fazer arte e viver feliz?
Pois é, será que só com inspiração dá para fazer arte? Quais são as ferramentas que os artistas utilizam para criar? Será que é só força de vontade?
Infelizmente não. Tudo isso é importante, mas, não é suficiente. E as crianças começaram a se reunir todas as manhãs de sábado, mas sem recursos financeiros não conseguiram fazer muita coisa e o grupo se dispersou.
É nesse momento que o Projeto Villa Coral começou a nascer. Em cidade pequena é assim, não é? Quando alguém tenta alguma coisa diferente mais cedo ou mais tarde fica todo mundo sabendo. Por coincidência nessa mesma cidade uma musicista jaraguaense que se chama Beth, que já precisou sair do estado atrás de estudos para ter uma boa formação em artes, ouviu a história dessas crianças.   Conhecendo as dificuldades da área ela ficou com vontade de ajuda-las de alguma maneira, mas não sabia como viabilizar essa ação. Foi nesse momento que ela ouviu falar que o Ministério da Cultura estava desenvolvendo uma Rede de Pontos de Cultura e que através dessa iniciativa era possível captar recursos para desenvolver projetos como o que ela pretendia realizar com essas crianças.
De repente foi como se tivesse aparecido um sinal de luz no fim de um túnel e a Beth se lembrou da história de vida do Villa Lobos e suas grandes conquistas e contribuições artísticas para a cultura brasileira. E a história de Villa Lobos é realmente inspiradora. Foi um grande músico e compositor brasileiro e é reconhecido internacionalmente. Apresentou algumas de suas composições na famosa Semana de Arte Moderna que aconteceu em 1922; viajou o país realizando uma vasta pesquisa sobre as músicas folclóricas brasileiras criando arranjos para cada uma delas; regeu grandes corais e desenvolveu vários projetos inusitados e grandiosos. Depois de se alimentar espiritualmente de toda essa história a Beth foi rapidinho conversar com outros artistas da cidade que como ela, também lecionavam artes na SCAR, um grande centro cultural que existe na cidade. Então ela com a Violeta e a Tanise formaram uma grupo e começaram a se reunir muitas vezes e ficaram meses planejando todos os detalhes para conseguir proporcionar para essas crianças uma experiência incrível e inesquecível. O projeto foi escrito, enviado e depois de muita espera, que parecia interminável, de quase um ano, o projeto foi aprovado.
Logo que o resultado saiu o Centro Cultural da SCAR foi informado e a musicista Beth com a Violeta e a Tanise saíram correndo nas escolas da região espalhar a noticia.
O primeiro ano de trabalho foi maravilhoso. O grupo se reuniu todas as terças-feiras numa sala do CRAS Boa Vista, onde trocaram experiências, investigaram seus gostos, individualidades, sonhos, fantasias, brincadeiras e quando as crianças menos esperavam perceberam que tudo o que elas tinham dividido com o grupo haviam contribuído para a formação do espetáculo de alguma maneira. E foi assim com um pouco de timidez, mas com muito orgulho que o grupo Villa Coral apresentou seu primeiro espetáculo para seus familiares e comunidade no final do ano em duas apresentações. No espetáculo as próprias crianças montavam e desmontavam o cenário que haviam confeccionado como se fosse um lego gigante, vestiram figurinos que elas mesmas ajudaram a confeccionar, cantaram duas músicas compostas pela Beth a partir de suas próprias ideias e uma terceira do próprio Villa Lobos, apresentaram também através da encenação um pouco do seu próprio universo infantil. O sucesso foi tanto que no ano seguinte várias das crianças assistiram ao espetáculo no final do ano ficaram com vontade de participar e no ano seguinte entraram para o grupo.
E assim continua a história do Villa Coral, como uma família que continua crescendo e se alimentando de arte semanalmente, inspirada pela paisagem que o Morro proporciona e alegria e imaginação das crianças.